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A mostrar mensagens de maio, 2008

A Memória

Farol na fase da construção Quando me propus registar pedaços da história da Gafanha da Nazaré, ouvidos uns e vividos outros, socorri-me da memória. E logo reconheci, de forma mais palpável, a sua importância. Com ela, e graças a ela, consigo desenhar percursos, meus e de outros, e compreender os alicerces das gentes desta terra que durante muitas décadas construíram a aldeia, depois a freguesia e mais tarde a vila e a cidade. Senti, então, enquanto retrocedia no tempo, como a memória explica sentimentos, quantas vezes esculpidos nos acontecimentos que vivi ou vi de perto, mas também que foram experimentados por tantos outros e que passaram de boca em boca. Com a memória revivi interrogações, desafios, barreiras e sucessos que encheram a alma dos gafanhões. Qual montanha que foi crescendo em mim, a memória permitiu-me um olhar crítico sobre o passado. E lá do cimo, ao mesmo tempo que me mostrou panorâmicas a perder de vista, contemplei suor e lágrimas de quem apostou transformar duna

Lugares da Gafanha da Nazaré

A Gafanha da Nazaré estava dividida em diversos lugares, fundamentalmente para definir a residência dos seus moradores. As habitações, na sua maioria modestas, eram construídas segundo a disponibilidade de terreno dos gafanhões. Mesmo nos princípios do século XX, as ruas e estradas eram poucas, fazendo-se as ligações às terras vizinhas, aos campos agrícolas ou entre os habitantes por simples caminhos de areia, que o rodado dos carros das vacas iam marcando. Não havia outra forma de indicar, por isso, as moradas dos gafanhões, que por estes areais se foram fixando. Foi, pois, natural a divisão da Gafanha da Nazaré em lugares, com designações que ainda hoje perduram, mas já sem qualquer importância. Presentemente, com ruas baptizadas e numeração das portas, é muito fácil dar com a casa ou pessoa procurada. Para a história, portanto, aqui ficam os lugares da Gafanha da Nazaré: Bebedouro, Cale da Vila, Cambeia, Chave, Forte da Barra, Marinha Velha, Praia da Barra e Remelha (ou Romelha?).

Auto de Revista da Capela de Nossa Senhora da Nazaré

“Aos trinta do mês de Julho do anno do Nascimento de N. S. Jesus Christo de mil novecentos e dez, no logar da Gafanha e do concelho d’Ilhavo d’esta Diocese de Coimbra, compareceram o M. R. Arcypreste do Districto Eclesiástico d’Aveiro, Manuel Ferreira Pinto de Sousa, comigo António Joaquim Soares de Rezende, escrivão mas em cumprimento da Ordem junto que lhe foi dirigida pelo Exm.º e Rev.mo Prelado diocesano, para responder aos artigos na mesma mencionada, para a creação duma nova parochia no referido logar da Gafanha, creada por decreto de vinte e três de Junho do corrente anno. E, passado, digo, passando o M. R. Arcypreste a responder, sobre os mesmos artigos, disse ao primeiro, que o Orago da nova freguesia devia ser - Nossa Senhora da Nasareth - por ser esta a vontade dos novos parochianos (o que acha muito justo) visto que a mesma Capella foi sempre dedicada a Nossa Senhora da Nazareth; ao segundo verificou que a dita capella mede de comprimento dezanove metros e oito de largu

Avenida José Estêvão

A actual Avenida José Estêvão está completamente diferente. Não na sua matriz original, que se mantém a mesma recta, mas em tudo o que a envolve. Os prédios abraçam-na, agora, completamente, e os passeios laterais são uma realidade palpável, permitindo boas caminhadas.

A Casa Gafanhoa

Desde menino que me habituei a frequentar a casa do tio João. Ia lá todos os dias, à noite, buscar o leite para o almoço. Almoço era a primeira refeição do dia. As outras duas refeições eram o jantar, por volta do meio-dia, e a ceia, noite dentro, quando terminavam os trabalhos agrícolas. Só na minha juventude é que se verificou a mudança, estabelecendo-se o pequeno-almoço, almoço e jantar. Mas esta nova ordem não entrou facilmente nos hábitos dos gafanhões. Conta-se, com alguma graça, que uma jovem costumava chamar a irmã mais velha que namorava à porta de casa, para vir para dentro, para jantar, porque a ceia já estava na mesa. A ida ao leite era um ritual que envolvia crianças e adolescentes, cujas famílias não tinham vacas turinas. À tardinha, muitos se juntavam à porta do tio João. Uns à espera do leite e outros à cata de namoricos. Conversava-se e brincava-se. Corridas, “escondidas”, “agarra”, “lencinho”, “pião” e “calarotes”, entre outros, eram jogos animados que ninguém dispe

Júlio Dinis na Gafanha

Aveiro, 28 de Setembro de 1864 Meu caro Passos Escrevo-te de Aveiro. São 7 horas da manhã de um histórico dia de S. Miguel. Acabo de me levantar. Acordou-me o silvo da locomotiva. Abri de par em par as janelas a um sol desmaiado que me anuncia o Inverno. A primeira coisa que este sol alumiou para mim, foi a folha de papel em que te escrevo; aproveito-a, como vês, consagrando-te neste dia os meus primeiros pensamentos e o meu primeiro quarto de hora. Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali. Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nu

Decreto Real da Criação da Freguesia

D. Manuel II “Tendo subido à Minha Real Presença a representação em que muitos habitantes do logar da Gafanha, freguesia d’O Salvador, de Ilhavo, no concelho d’esta denominação, distrito administrativo de Aveiro, e diocese de Coimbra, pedem a creação de uma freguesia no referido logar da Gafanha, tendo ali a sua séde; Considerando que se mostra do processo ser a providencia reclamada de grande conveniencia para o bem espiritual dos requerentes, sem prejuizo para a conservação d’aquella freguesia; Considerando que no dito logar da Gafanha, segundo as informações havidas, ha pessoal suffeciente para o exercicio dos cargos parochiaes; Considerando que é justo arbitrar a congrua do parocho da nova freguesia em cem mil reis, de derrama annualmente; Considerando que na circunscripção parochial deve attender-se a commodidade dos povos; Conformando-me com os pareceres das superiores auctoridades, ecclesiastica e administrativa, e com a consulta do Supremo Tribunal Administrativo; e Usando da

Igreja Matriz e Porto Bacalhoeiro

Igreja matriz Porto bacalhoeiro NOTA: Clique nas fotos para ver melhor

Denomina-se Gafanha...

: “Denomina-se Gafanha toda a região arenosa dos concelhos de Ílhavo e Vagos com cerca de 25 quilómetros de comprimento por 5 de largura, abraçada do Norte ao Sul (lado poente) pelo rio Mira e do Norte ao Sul (lado nascente) pelo rio Boco, afluentes da Ria-de-Aveiro, e confinando pelo Sul com uma linha que, saindo dos Cardais de Vagos, vai fechar ao Norte do lugar do Poço-da-Cruz, freguesia de Mira. Pela identidade da sua origem, topografia, condições de vida, costumes, etc., consideramos como uma continuação da Gafanha a duna situada naqueles dois concelhos, entre o Oceano e a Ria.” “Monografia da Gafanha”, 2.ª edição, 1944, do Padre João Vieira Rezende

Quando passei na Gafanha...

“Quando passei na Gafanha, vi as cachopas da beira-rio, todas molhadas, sempre metidas na água a rapar o moliço. Feias e ingénuas. A uma calculei-lhe: – Tem para aí treze ou catorze anos. – Tenho vinte e um, e três filhos, respondeu. – Outra tinha ficado a olhar para mim com olhos inocentes de bicho e as mãos postas sobre os seios redondinhos – sobre aquilo, como diz a Ti Ana, que o Senhor lhe deu e ela precisa… A Ti Ana Arneira, com cuja amizade me honro, é um dos meus melhores conhecimentos da Gafanha. Mulher capazona, como por lá se diz. Acompanha-me pelo areal, e conta-me logo à primeira a sua vida. Tipo atarracado e forte, de grossos quadris, vestida de escuro, chapéu na cabeça e aguilhada em punho. O homem foi para o Brasil há muitos anos (– É o rei dos homes!...), ficou ela e os filhos por criar. Criou-os todos. Netos, doenças, lutos. Nunca desanimou. A força que a sustenta é admirável, profunda, e radicada, como a de quase todas as mulheres do povo que conheço. Deitou-se à vida

GALAFANHA

Galafanha terá sido a origem da palavra Gafanha... Belo ponto de partida para uma reflexão periódica, sem data certa, ao sabor da maré. O tema será sempre GAFANHA DA NAZARÉ. Aceitam-se, naturalmente, contributos fidedignos. FM