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A mostrar mensagens de outubro, 2009

A Nossa Gente: Padre Manuel Ribau Lopes Lé

Padre Lé (Foto de Manuel Olívio) O sacerdote tem de se dar até ao fim da vida Um dia destes, de calor de Verão em pleno Outono, fui à procura do meu amigo e antigo confidente Padre Manuel Ribau Lopes Lé, mais conhecido por Padre Lé, que serviu a Igreja na Gafanha da Encarnação até há pouco tempo. Sentado num sofá, recebe-me de olhos bem abertos. Os olhos que sempre lhe conheci. Cedo, porém, percebi que o Padre Lé, com o peso dos 87 anos de idade e das canseiras, de mistura com recentes achaques, estava fragilizado. A recomendação que me acolheu indica que a memória recente tinha dado lugar à mais antiga, para onde ele encaminha, já com alguma dificuldade, as conversas sobre a sua vida sacerdotal. Depois de concluída a escola primária, com o professor Oliveira, segue as pisadas dos pais, cujas artes, na marinha de sal e na lavoura, lhe ensinam como era a vida dura daqueles tempos. Por essas alturas, nutre admiração pelo Prior Guerra. Olhava-o com respeito, media todos os seu

Auto de Delimitação da Freguesia da Gafanha da Nazaré

“No primeiro de Maio de mil novecentos e onze, neste lugar da Gafanha da Nazaré, sede da nova freguesia da Gafanha, deste concelho de Ílhavo, onde compareceu o cidadão Samuel Tavares maia, administrador do mesmo concelho, comigo Augusto do Carmo Cardoso Figueira, escrivão do seu cargo, e bem assim os cidadãos Manuel Branco de Lemos, parocho da freguesia de Ílhavo, João Ferreira Sardo, parocho da freguesia da Gafanha, Eduardo Craveiro, presidente da Comissão Municipal Administrativa deste concelho, José Ferreira de Oliveira, presidente da Comissão Parochial da freguesia da Gafanha e João dos Santos Patoilo, presidente da Freguesia de Ílhavo, para em cumprimento do ofício do Excelentíssimo Governador Civil, número quatrocentos e trinta de doze de Abril último se proceder à delimitação da freguesia da Gafanha, criada por decreto de vinte e cinco de Junho de mil novecentos e dez. Em seguida ele administrador e os mencionados cidadãos passaram a fazer a delimitação da nova freguesia da Gaf

GAFANHA DA NAZARÉ: Rua Camilo Castelo Branco

Um escritor que todos os portugueses conhecem  Camilo Castelo Branco Homenagem merecida a um dos grandes escritores da Língua Portuguesa. Penso que não há nenhum português, minimamente letrado, que não conheça O Amor de Perdição , obra famosa de Camilo Castelo Branco. Não consta que o escritor, falecido em 1890, com 65 anos de idade, alguma vez tenha passado por esta nossa terra, ainda longe de figurar no mapa de Portugal com o título de freguesia, o que só aconteceu, como os leitores do Timoneiro sabem, em 1910. De qualquer forma, e porque é hábito no nosso País baptizar as ruas com nomes de gente célebre, compreende-se, perfeitamente, a lembrança, para quem passa, de Camilo Castelo Branco. Desde a minha juventude que me deixei seduzir pelas estórias, com enredos, ora simples ora complicados, que Camilo, possuidor de uma escrita bastante rica, soube retratar nos seus livros, reproduzindo cenas e vidas do quotidiano, felizes ou dramáticas, na verdadeira acepção das palavras. De ta

Cada um de nós é o espelho do seu passado

Hoje mesmo [sábado, 24-10-2009], por volta do almoço, recebi o convite para proferir umas palavras nesta festa comemorativa dos 25 anos do Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, mais especificamente centradas no livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, de Maria Teresa Filipe Reigota, ela própria co-fundadora, ao lado de seu marido, do Rancho Regional em festa. Deixando agora essa qualidade, que não pode ser esquecida, apraz-me sublinhar que a Teresa, professora do Ensino Primário aposentada, sempre manifestou interesse pelas tradições que a enformaram. No contacto com colegas, com alunos e pais, com pessoas jovens e menos jovens, de todos foi bebendo, sei que com sofreguidão, as marcas indeléveis destes povos que fizeram história pelo seu trabalho insano, no desbravar de terras maninhas, ancinhando a ria à cata do moliço, e alisando dunas, teimosamente soltas, que depois se tornaram terras férteis. O seu ADN alberga, seguramente, essa capacidade de trabalho, de entrega a ca

Acta da instalação e 1.ª sessão da Comissão Paroquial Administrativa da Freguesia da Gafanha

"Aos vinte e sete dias do mês de Outubro de mil novecentos e dez, na casa provisoriamente destinada às sessões da Comissão Paroquial da freguesia da Gafanha, concelho de Ílhavo, compareceram os cidadãos abaixo assinados nomeados membros daquela comissão por alvará do Governo Civil de Aveiro com data de vinte e quatro do corrente, e o cidadão Dr. Samuel Tavares Maia, administrador interino do concelho de Ílhavo que lhes conferiu a respectiva posse. Todos por sua honra juraram cumprir com os seus deveres de cidadãos da República Portuguesa e com zelo e patriotismo pugnarem pelo bem desta freguesia seguindo as normas da mais imparcial justiça e procurando por todos os meios ao seu alcance fomentar o desenvolvimento social, intelectual e material dos seus paroquianos. Tendo tomado posse os membros efectivos da comissão constituíram-se imediatamente em sessão, nomeando secretário da mesma Manuel Nunes Ribau, e elegendo por escrutínio secreto o seu presidente e tesoureiro, recaindo a e

Santuário de Schoenstatt faz hoje 30 anos

D. Manuel sempre presente Para a construção de um homem  novo para uma nova sociedade No dia 21 de Outubro de 1979 foi solenemente inaugurado o Santuário de Schoenstatt na Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, em cerimónia presidida pelo Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. Faz hoje, portanto, 30 anos, cheios de muita fé e de muitos envios de peregrinos e membros, rumo à construção de um homem novo para uma nova sociedade. A 25 de Março do mesmo ano, dia da inauguração da Casa das Irmãs de Maria, o nosso Bispo benzeu o terreno, onde, logo de seguida, se daria início à construção do santuário. Em 20 de Maio procedeu-se à bênção da Primeira Pedra e no dia 21 Outubro aconteceu então a grande festa. A Primeira Pedra, a Pedra Angular, veio de Roma e foi abençoada pelo Papa João Paulo II. Tem incrustada na face frontal uma outra pedra trazida do túmulo de S. Pedro e sob a qual está gravada a inscrição Tabor Matriz Ecclesiae, que significa “Tabor da Mãe da Igreja”, que

Erecção Canónica da paróquia da Gafanha de Nossa Senhora da Nazaré

Igreja em construção à data da criação da freguesia “Vistos estes autos, etc. Pelo que d’elles consta mostra-se que muitos habitantes do logar da Gafanha, freguesia d’o Salvador de Ílhavo, no concelho do mesmo nome, d’esta Diocese, requerera a Sua Magestade El-Rei Houvesse por bem determinar que pelos meios competentes se procedesse à creação de uma nova parochia, com séde no dito logar da Gafanha e formada pelos povos do mesmo logar, o qual para esse fim será desanexado da referida freguesia de Ílhavo; Mostra-se que sua Magestade El-Rei atendendo a que a providencia reclamada é de grande conveniencia para o bem espiritual e temporal dos requerentes, sem prejuiso para a conservação da dita freguesia de Ílhavo, e conformando-se com os pareceres das superiores auctoridades ecclesiastica e administrativa e com a consulta do Supremo Tribunal Administrativo, Houve por bem por decreto de 23 de junho do corrente anno auctorisar a desanexação do referido logar da parochia a que actualment

As nossas tradições em livro

Um livro de Teresa Reigota “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo” “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo” é um livro de Teresa Filipe Reigota, natural da Gafanha da Nazaré e residente na Gafanha da Boavista, S. Salvador. Gafanhoa de gema, como gosta de afirmar, esta professora aposentada tem uma indesmentível paixão pela etnografia. Com seu marido, o também professor aposentado João Fernando Reigota, funda o Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, em 1984. O envolvimento nas tarefas de recolhas, pesquisas e estudos, levou-a a sentir a necessidade de preservar e divulgar os usos e costumes das gentes que a viram nascer e das quais guarda gratas recordações. Assim nasceu o livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, que vai ser lançado no dia 24 de Outubro, sábado, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Ílhavo, em cerimónia que encerra as celebrações das Bodas de Prata do Rancho Regional. Sobre este livro pronunciar-me-ei numa outra altura, pois considero importante

A Hora da Saudade no Rádios Antigos no Ar

Pesca do Bacalhau A Hora da Saudade, de que há meses falei no meu Pela Positiva , foi agora recordado pelo coleccionador António Rodrigues, no seu site Rádios Antigos no Ar . Tema para eu, como outros, reviver, porque o assunto, na época em que aconteceu, suscitava grande interesse. Hoje, praticamente, ninguém evoca a Hora da Saudade, que levava pelos ares a nossa voz emocionada e feliz, até junto de familiares que labutavam no alto mar por uma vida melhor para os seus. Sou o primeiro a reconhecer a importância desses momentos únicos vividos na pacatez da nossa região, quase toda ela voltada, indelevelmente, para o Atlântico Norte, onde bravos marinheiros catavam e arrastavam o mar, com fome  dos bacalhaus, que seriam sustento de muita gente no nosso país, agora de olhares fixos, quase somente, no tratamento e comercialização do fiel amigo. Sinto que por vezes perco tempo com algumas banalidades, quando podia, muito bem, envolver-me em questões mais pertinentes... mas a vida tem

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 149

O NAUFRÁGIO DO “MARIA DA GLÓRIA” . Maria da Glória     Na sua colaboração habitual de todos os domingos, desde há bastante tempo, e sempre  lida com muito agrado e até com emoção, o meu amigo Manuel lembra-nos hoje o afundamento do navio-motor Maria da Glória, em 1942, por bombardeamente de um submarino alemão, em plena grande guerra. Pode ler aqui.

Ruas da Gafanha da Nazaré: Rua Raul Brandão

Rua Raul Brandão O Cantor da Ria merecia muito mais Quando há anos topei com a Rua Raul Brandão, confesso que fiquei triste. É verdade. Porque o escritor merecia muito mais. Eu sei que a relação das ruas a baptizar tinha sido feita, na sua grande maioria, numa noite. De modo que, quer queiramos quer não, não havia hipótese de escolher a rua, conforme a personalidade a homenagear. E Raul Brandão, provavelmente, na minha óptica, o que melhor cantou a nossa ria, com referência assinalável à Gafanha, merecia mais do que uma ruazinha sem expressão, sem circulação de veículos que levasse as pessoas a falar dele. A Rua Raul Brandão parte da Rua Sacadura Cabral (e não Secadura Cabral, como se lê numa placa) e dirige-se para a ria, sem lá chegar. Raul Brandão canta no seu livro Os Pescadores, de forma única, a Ria de Aveiro. Andou por aqui para a conhecer, no dia 21 de Julho, e dias seguintes, de 1922. Alguns dias, certamente, porque de outra forma não seria possível pintar um quadro