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A mostrar mensagens de abril, 2011

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 13

TORREIRA Eu não gosto de exageros de espécie nenhuma, embora ache às vezes graça a certas palavras grandíloquas, altissonantes, ou a certas imagens ou panoramas vistos à lente de aumento, sem cerimónia coloridos, hipertrofiados, com que nós, na febre do entusiasmo, pretendemos pôr em relevo a beleza que nos fascina ou a admiração que acima de nós e da nossa pequena medida nos ergue. Também a hipérbole pode servir para, feitos os devidos descontos, ficarem as coisas no seu quadro justo.   Nesta ordem de ideias é que eu não receio de dizer que, de todas as terras que eu conheço no mundo, sem falar de Aveiro, porque afinal de um aspecto de Aveiro se trata, outra não há que tenha um encanto, uma magia de águas, de sons, de ruídos, uma luz tão doce, um sol tão límpido, um céu tão transparente, tão meigo, como tem a Torreira. Das terras que não conheço, se alguém me disser que há alguma em qualquer parte mais linda do que a Torreira, tenham paciência, eu não acredito.

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 12

«Mas a ria enche-se de asas brancas, garças reais que coalham o azul, além sobre a barra, onde a névoa fumega indecisa e lenta, e do outro lado, sobre Pardelhas, Estarreja, até Ovar bolinando ao vento. É uma verdadeira esquadra, embandeirada em festa, porque hoje é dia de São Paio, na Torreira. Cada barco traz a sua povoação, a sua aldeia, a sua canção, as suas guitarras e adufes. A ria torna-se melodiosa, e sussurra, vibrante nas suas ondas de água, finas como cabelos de mulher, que os ventos represados percutem como uma arcada de violino. Durante muito tempo embala-nos aquela música aquática, dolente e enlanguescedora. As tonalidades mudam. Já não há azul. Os longes tornaram-se brumosos, e a água oleosa, baça, não tem uma vaga, uma crispação. Dir-se-ia um lago imobilizado por um silêncio astral. Um cinzento de agonia envolve esta paisagem de além mundo, prostrada na morte, se o sol não acordar antes da tarde. Mas, sobre a Torreira, estralejam os primeiros foguetes da festa, com os

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 11

Moliceiro na Bestida «No velho pontão da Bestida, que as invernias todos os anos despedaçam, dir-se-ia que Portugal acaba. Portugal e a terra na sua solidez física, nos seus costumes mais vulgares, e até nalguns dos elementos mais primordiais da sua vida. É outro mundo, líquido, brumoso, feito de distância azul, isolado do continente por uma ria maravilhosa, paleta de mil cores, tão larga que cabe nela o Tejo, nos seus dois quilómetros de água tranquila e adormecida. Fecham-se atrás de nós, como sob o pano de uma ribalta, as terras ribeirinhas da Murtosa, e de Bunheiro, entre pâmpanos virentes, muito tufados, milheirais extensos que ondeiam as suas bandeiras doiradas, pomares cerrados, onde os ramos já nos estendem os frutos maduros, corados de sol, que fendem a casca, pejados de sumo. Uma fotosfera prateada envolve a ria que vem do Furadouro, lá longe, para nascente, recortada de canais, hérnias líquidas daquele ventre de água, extraordinariamente fecundo que se desentranha em admi

Aveirenses ilustres: Jaime de Magalhães Lima

(Clicar nas imagens para ampliar) Fonte: "Ilustração Moderna", 1.º Ano, n.º8, 1926

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 10

Luís de Magalhães E, conforme a hora e o cenário do céu, essa paisagem elisiamente calma, ao mesmo tempo movimentada e silenciosa, oferece tonalidades diversas: ora é toda em nuances de sanguínea, com toques e relevos de oiro; ora em tons de azul, frescos e transparentes como os das marinhas dos azulejos de Delft; agora é o verde que predomina em gradações sucessivas, desde o verde-negro dos pinhais ao verde-marinho das águas paradas; depois é o alaranjado dos poentes; depois o violeta dos crespúsculos; depois os cinzentos desbotados; os pálidos tons de pérola, as aguadas de nanquim da noite que começa...  *  «E se há luar, se a lua cheia, surgindo atrás da cumeada das serras longínquas, vem banhar toda essa extensão de águas e de planícies – então os aspectos que ela oferece têm qualquer coisa de maravilhoso, de irreal, como uma visão criada por um sortilégio mágico. Entre o céu e a ria, a linha da terra fronteira é apenas um longo e fino traço escuro, um delgado filete de sombra.

AVEIRO: Efemérides da Ria

Muros da Ria (actuais) 1780 — Principiaram os trabalhos do muro do cais mandados executar pela Rainha D. Maria I; mais tarde o muro seria totalmente refeito pela pouca solidez e estado ruinoso. 1810 — Os aveirenses solicitaram ao Príncipe Regente, D. João, que ordenasse a reparação dos muros dos cais   desta cidade, o que obteve despacho favorável. 1858 — Por se ter arruinado o cais, em consequência da pouca solidez das obras mandadas fazer pela Rainha D. Maria I, o Governo ordenou a sua reconstrução. 1858 — Um decreto governamental criou a Junta Administrativa e Fiscal das Obras da Barra de Aveiro, cujas atribuições passaram para a Circunscrição Hidráulica de Coimbra em 1886. 1861 — O Engenheiro Silvério Augusto Pereira da Silva apresentou um novo relatório sobre as Obras da Barra de Aveiro. 1930 — No Cine-Rossio, o Capitão de Fragata e aveirense ilustre, Silvério Ribeiro da Rocha e Cunha, fez uma conferência que dividiu em três partes: Aveiro no passado; a história da lag

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 9

«Paisagem deliciosa e original, indecisa entre o mar e a terra, e que nos enche de vivo prazer quando dominamos desde os altos de Angeja à raiz das montanhas.» Oliveira Martins

Gafanha da Nazaré: cidade há dez anos

Praia da Barra: Painel de Zé Augusto Criada freguesia em 23 de junho de 1910 e paróquia em 31 de agosto do mesmo ano, a Gafanha da Nazaré é elevada a vila em 1969. A cidade veio em 2001, por mérito próprio. O seu desenvolvimento demográfico, económico, cultural e social bem justifica as promoções que recebeu do poder constituído no século XX, a seu tempo reclamadas pelo povo.  A Gafanha da Nazaré é obra assinalável de todos os gafanhões, sejam eles filhos da terra ou adotados. De todos os pontos do País, das grandes cidades e dos mais pequenos recantos, muitos chegaram e se fixaram, porque não lhes faltaram boas condições de vida.  A Gafanha da Nazaré é, hoje, uma mescla de muitas e variadas gentes, que, com os seus usos e costumes e muito trabalho, enriqueceram, sobremaneira, este rincão que a ria e o mar abraçam e beijam com ternura.  O Decreto-lei n.º 32/2001, publicado no Diário da República de 12 de julho do mesmo ano, foi aprovado pela Assembleia da República em 19 de abril de

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 8

Canal-Palheiros «A região de Aveiro é uma pequena Holanda em clima e luz ocidentais. Provavelmente pela extensa superfície de evaporação de centos de hectares de água salgada, toda esta região se distingue no norte do país pela luz irisada que a banha e de momento a momento muda de tom. Por vezes julgamo-nos aí transportados a uma região ideal.» António Arroio, In "Origens da Ria de Aveiro, de Orlando de Oliveira

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 7

Torreira Eu nunca tinha visto a ria de Aveiro. Daí — dirão — este meu entusiasmo. Ora a laguna, com os seus múltiplos canais, seus campos encharcados, seus horizontes abertos, sua exuberância de luz e seu sonho de distância — é bela sempre e cada vez mais, afirmam os que todos os dias se banham no mistério da sua extensão panorâmica. A ria de Aveiro — é uma maravilha. Fujo a descrevê-la, porque isso não está agora no meu programa. Faltam aos meus olhos os palácios de mármore, as colunas de oiro, as igrejas erguidas em renda, as margens coalhadas de sonho e arte: S. Maria degli Scalzi, S. Marcuola, a casa de Contarini, e a distância de oiro sobre gaze de azul de S. Giorgio Maggiore. Mas — lembro-me de Veneza… Uma Veneza despida, no seu estado imaculado, em plena exuberância primitiva, onde se adivinha a vontade de Deus, de tudo ficar como ele a criou. Maravilha contemplativa! O canal segue até o mar, lá pr’a baixo, nem eu sei pr’a onde. E as margens respiram humildade e humildade; evo

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 6

(Clicar na imagem para ampliar) In "Os Pescadores", de Raul Brandão

Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro — 10

Eng. Coutinho de Lima (1903-1978) 1944 — Decreto-Lei n.º 33 922, de 5 de Setembro de 1944, que aprovou a segunda fase do plano portuário nacional. 1947-1958 — 2.ª fase do anteprojecto de Prolongamento dos Molhes para Melhoramento da Barra de Aveiro, da autoria do engenheiro Coutinho de Lima, e Plano de Arranjo e Expansão do Porto Bacalhoeiro de Aveiro, da autoria do mesmo engenheiro (1947-53). 1949 — Lei n.º 2035, de 30 de Julho de 1949, (Lei da exploração portuária). 1950-1998 — Novo estatuto orgânico das juntas autónomas dos portos, que, no caso de Aveiro, se passou a denominar Junta Autónoma do Porto de Aveiro (JAPA). 1953-1959  —  I Plano de Fomento, aprovado pela Lei n.º 2058, de 29 de Dezembro de 1952. 1956 — Aprovada, por parecer n.º 2709, a “Ampliação do esquema geral do porto interior e plano geral das obras do porto de pesca costeira”. 1959-1964 — II Plano de Fomento, aprovado pela lei n.º 2094, de 25 de Novembro de 1958. 1973 — Plano Director de desenvolvime

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Costa Nova antiga «Com a manhã, que se adianta, as gotas de chuva embebem-se de outra luz esbranquiçada. Ganham os tons baços transparência e uma claridade difusa bóia no céu. Baba-se. A amplidão da água reflecte já outras tintas. A neblina a todo o momento desmaia e a casta planície vaporizada ilumina-se de uma luz cor de pérola que hesita em pousar: os verdes são mais claros, as árvores suspensas no ar e as casas construídas na água. Além, à esquerda, mostram-se os palheiros da Costa Nova — mas tudo ainda adormecido na terra, no silêncio e na água. Uma tainha salta…» Raul Brandão In »Os Pescadores»

Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro — 9

Eng. Von Hafe 1924 — António Carlos de Aguiar Craveiro Lopes foi nomeado a 12 de Janeiro de 1924 pela Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro, criada em Dezembro de 1921, como primeiro director de obras. 1925-1932 — João Henrique Von Hafe tomou posse a 27 de Junho de 1925 e foi o segundo engenheiro da JARBA. 1926 — Decreto n.º 12 757, de 2 de Dezembro, designado por “Lei dos Portos”, e ainda a criação da I Repartição de Portos, na Administração Geral dos Serviços Hidráulicos, com responsabilidade de execução de obras portuárias. 1926 — Com o decreto n.º12 757, de 2 de Dezembro, designado por “Lei dos Portos”, o porto de Aveiro foi classificado como porto de 3.ª classe. 1929 — Decreto 16 728, de 13 de Abril de 1929, que determina a realização de grandes obras portuárias. 1929 — Pela publicação do Decreto n.º 16728, de 13 de Abril, o Porto de Aveiro é reclassificado como porto de 2.ª classe. 1930-1936 — Início da 1.ª fase do plano portuário de Aveiro, em 1930, projecto do en

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Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro — 8

1897 — Prospecto acerca da “legitimidade da propriedade particular em terrenos alagados pela ria de Aveiro — representação dirigida a Sua Majestade, em Fevereiro de 1897, pelos proprietários ribeirinhos”, assinalada pelos 462 proprietários. 1898-1921/23 — Criação da Junta Administrativa das Obras da Barra e Ria de Aveiro (JAOBRA). Serve-se do Regulamento da Junta Administrativa das Oras e Melhoramentos da Barra do Douro, de 26 de Abril de 1891 (aprovado por portaria de 26 de Abril 1892). 1898 — O engenheiro Dinis Theodoro de Oliveira foi nomeado o primeiro Director das obras sob a administração da Junta Administrativa das Obras da Barra e Ria de Aveiro (JAOBRA). 1904 — Publicação da obra do engenheiro Adolfo Loureiro, que promoveu os estudos hidro-topográficos, instalando, para isso, 26 hidrometros ao longo do Vouga e rias de Aveiro, Ovar, Mira e Ílhavo — Os portos marítimos de Portugal: Porto de Aveiro, v. II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904. 1921/23-1950 — Por decreto de 7 de D

Recordações: Lima Vidal e a Gafanha

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Escritores fascinados pela Ria de Aveiro — 3

«De um lado o mar bate e levanta constantemente a duna, impedindo a água de escoar; do outro é o homem que junta a terra movediça e a regulariza. Vem depois a raiz e ajuda-o a fixar o movimento incessante das areias, transformando o charco numa magnífica estrada, que lhe dá o estrume e o pão, o peixe e a água de rega.» «O homem nestes sítios é quase anfíbio: a água é-lhe essencial à vida e a população filha da ria é condenada a desaparecer com ela. Se a ria adoece, a população adoece.» In “Os Pescadores”, de Raul Brandão

Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré

Alguns subsídios para a sua história Em 1888,  inicia-se a sementeira do penisco no pinhal velho, terminando, na área da atual Gafanha da Nazaré, em 1910. Somente em 1939 ultrapassou o sítio da capela de Nossa Senhora da Boa Hora, ficando a Mata da Gafanha posteriormente ligada à Mata de Mira. (MG) A Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré foi inaugurada numa segunda-feira, 8 de dezembro de 1958, Dia da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal. Contudo, o processo desenvolvido até àquela data foi demorado e complexo. Aliás, a sua existência legal data de 16 de novembro de 1936, decreto-lei 27 207. Os estudos do terreno foram iniciados pela Junta de Colonização Interna em 1937, onde se salientaram as «condições especiais de localização, vias de comunicação e características agrológicas», como se lê em “O Ilhavense”, que relata o dia festivo da inauguração. O projeto foi elaborado em 1942 e, após derrube da mata em 1947, começaram as obras no ano seguinte. Terraplanagens,